Cultura, Notícias

Bullying, depressão, violência, estupro, violação de privacidade, homofobia, suicídio… Porque ainda precisamos falar sobre “Os 13 Porquês”

13-reasons-why-personagens-netflix.jpg

Série da Netflix faz crescer em 445% busca por centro de prevenção do suicídio” foi o título da matéria que me chamou a atenção há alguns dias. Como sempre busco conteúdo interessante para atualizações do meu blog, já estava ciente da data de estreia e do tema que seria apresentado na nova série do serviço de streaming, mas confesso que não cheguei a pensar que a repercussão seria tão grande. E mesmo não sendo o assunto central do que costumo escrever, me senti na obrigação de abordá-lo por razões que serão explicadas no decorrer do texto.

Para quem ainda não ouviu falar, “13 Reasons Why” é uma série de 13 episódios baseada no livro homônimo de Jay Asher, lançado em 2007, com produção da cantora Selena Gomez – nome conhecidíssimo pelo público mais jovem. A série conta a história de Hanna Baker (Katherine Langford) uma adolescente que comete suicídio após uma série de abusos físicos e psicológicos, entre eles bullying (termo que ainda não era tão popular quando eu era um mero estudante em meados dos anos 90, mas nem por isso era um problema inexistente), violência psicológica, violação da privacidade (facilitada imensamente pela tecnologia) e estupro. Sim, temas pesados, desconfortáveis e, infelizmente, atuais!

Apesar disso, a maratona de 13 horas seguidas acompanhando o desenrolar do drama de Hanna – Sim, teve que ser em uma tacada só, ou talvez eu não tivesse estômago de voltar e chegar à conclusão da história – é uma das poucas ocasiões em que, já como adultos, temos a oportunidade de parar e repensar uma parte de nossa própria história muitas vezes obscura: a adolescência.

Um dos pontos positivos da produção é justamente o fato de que é impossível não se identificar com pelo menos um dos personagens, sejam eles estudantes, pais ou professores. Seja a vítima, o algoz ou o adulto responsável por ambos que não estava tão atento à situação quanto deveria.

A empatia pode gerar um desconforto extremo ao te trazer recordações de uma época em que você não podia ser acusado de bullying, mas possivelmente ajudou a tornar a vida de alguém um verdadeiro inferno. Estou falando do “abusador”, do que cria situações embaraçosas para uma boa parte dos colegas seja por pura diversão, perversidade, necessidade de atenção ou qualquer outra possível motivação. Paradoxalmente, podem ser as pessoas mais populares em um grupo de jovens…

Em contraponto, a história pode te fazer recordar a época em que tinha apelidos constrangedores e/ou era excluído de alguns círculos simplesmente por não se encaixar em padrões rigidamente construídos pela crueldade adolescente. Fico imaginando como poderia ter sido pior para algumas vítimas na minha época de escola se tivéssemos à nossa disposição tanta tecnologia para ser usada contra alguém: Facebook, Twitter, Instagram, WhatsApp, Snapchat. Armas modernas em mãos inconsequentes e imaturas direcionadas a “alvos” muitas vezes frágeis. Fazendo uma alusão clara ao poder destruidor que a internet teve em sua vida, em “13 Reasons Why” a protagonista deixa gravado em arcaicas fitas cassete as razões que culminaram em sua trágica decisão.

13RW
Cena de “13 Reasons Why”

Ao mesmo tempo, você poderia ter a vaga lembrança de simplesmente não ter feito nada! Nada para frear humilhações a colegas de classe. Nada que pudesse apoiar alunos com claros indícios de depressão, nada que pudesse evitar que seus filhos pudessem pensar no pior. Uma conivência que ainda custa milhares de vidas anualmente (Suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos).

Alguns psicólogos e psiquiatras elogiaram, outros criticaram e a grande maioria foi unânime em pelo menos um ponto: adolescentes e pessoas emocionalmente abaladas devem ser orientadas a respeito do conteúdo caso desejem acompanhar a série (e desencorajadas de assisti-la, dependendo do caso). Ok, confesso que a minha maratona foi motivada principalmente pelo fato de ter um filho de 13 anos que assistiu a todos os episódios em poucos dias. Foi assustador…

Assim como o livro (dizem, eu ainda não li), a série é extremamente realista, mesmo nas cenas mais pesadas que envolvem estupro e o próprio suicídio da protagonista. Alguns argumentam que a Netflix vem prestando um desserviço uma vez que a trama pode apresentar vários “gatilhos” a pessoas emocionalmente instáveis e/ou abaladas. De fato, ela vai no caminho contrário às três recomendações principais da OMS referentes ao suicídio: 1) evitar romantizar o ato do suicídio; 2) evitar retratar o suicídio como uma resposta aceitável às dificuldades; 3) evitar incluir o método, local ou detalhes da pessoa que faleceu.

Muitos mencionam o subestimado “Efeito Werther” (em referência ao romance “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, de Goethe) em que produções midiáticas podem ter consequências desastrosas na vida de pessoas fragilizadas, deprimidas e com tendências suicidas. Segundo alguns especialistas, a divulgação de tais materiais poderia desencadear um efeito contrário ao do debate e da discussão saudável sobre o assunto, ainda um tabu.

Sim, na minha opinião pessoal, ao atingir o objetivo de tornar o episódio “desconfortável” para as pessoas (mesmo em boas condições psicológicas), o suicídio da protagonista foi desnecessariamente romanceado… Mesmo que a produção tenha sido (certamente) bem intencionada, a omissão de algumas cenas não diminuiria em nada o debate benéfico que deve surgir a partir do lançamento da série: Bullying não é “mimimi”, depressão não é frescura, violência psicológica é tão séria quanto violência física, divulgar fotos constrangedoras de qualquer pessoa é desumano… Essa discussão não é apenas válida, é NECESSÁRIA!

Assim como é necessário termos um cuidado maior no que diz respeito à depressão na era hipertecnológica dos millennials. Para algumas pessoas, independentemente da idade, existem momentos na vida em que a esperança se esvai. Aparentemente, não há motivos para permanecermos aqui… A vida não faz sentido, não nos encaixamos, o sofrimento parece não ter fim, o mundo inteiro parece desprezar o que somos, o que representamos, o que desejamos. Sim, parece que o jogo está perdido antes mesmo de começar, que ninguém é capaz de compreender o vazio, a solidão, o desespero. Que não conseguimos encontrar uma única razão para estarmos aqui mais um dia sequer… Mas acreditem, há!

Sempre há uma saída e não, ela não precisa ser a mais drástica! É difícil raciocinar nesses momentos de confusão, eu sei por experiência própria, então o conselho que posso dar a qualquer pessoa que esteja passando por isso no momento é: peça ajuda! Aos seus pais, a algum parente de confiança, a amigos, colegas, professores e não hesite em momento algum em procurar ajuda profissional antes de tomar qualquer decisão que possa impactar não só na sua própria vida, mas na de todas as pessoas que certamente te amam!

Cuidem-se!

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail, chat e Skype 24 horas todos os dias.

http://www.cvv.org.br/

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s