Estávamos em Faro, Portugal, apenas de passagem. Mas como bons mochileiros, não resistimos à tentação de conhecer uma tal de Ilha Deserta a 15 minutos (e 12 euros) de distância. Seria propaganda enganosa? Ao chegarmos lá encontraríamos 15.000 turistas poluindo as areias? Confira!
Faro, quinta-feira, 10 de novembro de 2016 (15° dia de viagem).
CRUZANDO SUAVEMENTE A FRONTEIRA
Pegamos o autocarro da Alsa na Estação Plaza de Armas em Sevilha por volta das 9h da manhã (Já é bom eu começar a me acostumar com algumas palavras essencialmente portuguesas: autocarro = ônibus, comboio = trem, e por aí vai). Algumas horas depois, escutando a única estação portuguesa que o rádio do meu celular conseguia conectar, e levemente adormecido, abri os olhos no susto enquanto passávamos por uma ponte.
Eu não tinha certeza naquele momento, mas desconfiei que atravessávamos o Rio Guadiana na fronteira entre Espanha e Portugal. A confirmação veio logo em seguida ao avistarmos uma placa que nos dizia oficialmente que estávamos agora em território luso. Assim como na Espanha, as estradas portuguesas pareciam muito bem conservadas e foi fácil pegar no sono novamente.
DIMINUINDO O PESO
Ainda com o cheiro do Marrocos e da Andaluzia na alma, desembarcamos em um novo país. O dia ensolarado não fazia jus à temperatura, cuja brisa marinha matinal empurrava para baixo. E quais eram as informações que tínhamos sobre Faro ao descermos do autocarro? Que era a capital da região do Algarve e, supostamente, teria belas praias. Como ficaríamos apenas algumas horas antes de irmos para Lisboa, o roteiro poderia ser moldado conforme escolhêssemos.
Tomamos nosso pequeno almoço em uma cafeteria em frente à Estação de Comboios da cidade e deixamos as mochilas em um guarda volumes – que também aluga bikes – exatamente ao lado. Pela bagatela de € 7,5 poderíamos andar despreocupadamente pela cidade sem o peso das mochilas maiores (Eu achei caro, mas não haviam muitas opções).




EXPLORANDO A ILHA DESERTA
Como não tínhamos nada específico em mente com relação a conhecer o lugar, fomos passear perto da marina e logo fomos abordados pela Maria, da empresa Animaris, que tinha um passeio imperdível! (Eles sempre têm um passeio imperdível em lugares como este…). Não demorou muito e ela nos convenceu a fazer um tour com duração de quatro horas por uma tal de “Ilha Deserta” por € 12,5 (Seria propaganda enganosa? Ao chegarmos lá encontraríamos 15.000 turistas poluindo as areias?)
Depois de uns quinze minutos de barco, chegamos por volta das 12h30 à ilha, que aparentemente era habitada apenas por nós e um casal de velhinhos aventureiros. (É, estava realmente deserta, mas também era uma quinta-feira!). Fabricio, que se pudesse teria pego o próximo comboio direto para Lisboa, parecia um pouco mais animado!
A Ilha Deserta, também conhecida como Ilha da Barreta, pertence ao Parque Natural da Ria Formosa, possui apenas um restaurante, o Estaminé, 11km de praia (apesar de as águas estarem gélidas comparadas aos padrões sul-americanos) e a possibilidade de apreciação da fauna local (borrelhos, garajaus, andorinhas do mar, chiretas). A areia é cheia de vida, abrigando várias espécies de moluscos: amêijoas, búzios e muitas outras conchas.

Tomamos um belo banho de mar gelado (demoramos uns dez minutos para conseguir entrar de fato) enquanto observávamos ao longe que não estávamos tão sozinhos quanto imaginávamos: um tubarão branco estava à espreita! (Ok, essa parte foi mera ficção, mas apesar do número de ataques ser praticamente nulo, sim, existem tubarões na costa portuguesa!). Mas o que observamos, na realidade foi um casal a uns 5 km de distância, decidindo se entravam ou não nas águas geladas do Atlântico Norte.
O RETORNO DA DOENÇA DAS CONCHAS
Meu amigo Fabricio não é muito chegado a praias (a pessoa não faz jus à nacionalidade brasileira e é pobre em melanina). Tanto que a única praia em que nos aventuramos durante toda a viagem até o momento foi a Playa Malagueta, em Málaga. Nessa praia sofremos de uma patologia bizarra que consiste em não conseguir parar de catar pedras e conchas na beira do mar (!). Bem que tentamos nos conter, mas as conchas da Ilha Deserta eram tão imensas e variadas que passamos praticamente a tarde toda nessa colheita estranha… cuidado, isso pega! (Risos)

CORRENDO PARA NÃO PERDER O BARCO
Havíamos combinado de voltar por volta das 16h. Como já passava das 14h, resolvemos parar de catar conchas e conhecer outras partes da ilha, o que deveria ser possível fazer em alguns minutos. Não se engane, o lugar é enorme!
Perdemos a entrada que leva até o caminho de pedestres que circula a ilha até a baía e, para encurtar caminho, tivemos que desbravar a região pelo lado mais selvagem e espinhoso (literalmente!). Mas a aventura valeu a pena (não sei se o Fabricio concorda) e no final acabamos por chegar faltando ainda quinze minutos para o barco sair. Foi o tempo de recuperarmos o fôlego e voltarmos a sentir um frio considerável.

COMBOIOS DE PORTUGAL
De volta ao continente, almoçamos rapidamente no McDonald’s (nessa parte da viagem foi necessário começar a usar o cartão de crédito internacional, salve-se quem puder!) e compramos as passagens para o próximo comboio com destino à Lisboa. Portugal conta com uma rede ferroviária eficiente de norte a sul do país. Ainda que em alguns trajetos custe um pouco mais caro que os autocarros, o custo benefício costuma compensar. Eu, como não estava acostumado a tanta facilidade de locomoção, quase sempre optaria por viajar com os Comboios de Portugal se a diferença de preços fosse mínima. Em mais ou menos três horas, desembarcaríamos finalmente na capital.
O QUE NÃO CONHECEMOS, MAS PARECE VALER A PENA
- Praia Quinta do Lago
- Ruínas romanas de Milreu ou Ruínas de Estói
- Palácio de Estói
- Torres Bizantinas e Muralhas de Faro
- Cidade Velha/Centro Histórico
- Catedral de Faro
- Rua Dr. Francisco Gomes (principalmente à noite)
- Fabrica dos Sentidos
- Dom Rodrigo, um doce de amêndoas típico da região
- Columbus Bar
- Igreja Nossa Senhora do Carmo e sua Capela dos Ossos (é, não é apenas Évora que ostenta uma capela dessas)
- Restaurantes Tertúlia e Vila Adentro
- Bate e volta em Albufeira, Portimão e Lagos (onde ficam as praias do tipo “cartão postal” do Algarve)
Devidamente anotado para a próxima vez! 😉
CURIOSIDADES
- A cidade, que já foi chamada de Ossónoba (Osson Êba) durante a colonização Fenícia em VIII a.C., após o governo de Said Ibn Harun na taifa de Santa Maria, no séc. XI, passa a designar-se Santa Maria Ibn Harun. Foi renomeada pelos portugueses, após a conquista de Dom Afonso III, por Santa Maria de Faaron ou Santa Maria de Faaram no século IX. Daí a origem do nome. Do séc. XVI a XVII o nome evoluiu para Farom , Faroo e Farão. O nome Faro surgiu no séc. XVIII e permaneceu até aos dias de hoje.
- O Aeroporto de Faro, construído em 1965, é um dos mais movimentados de Portugal. A procura se justifica devido à proximidade de outras cidades costeiras do Algarve e da região da Andaluzia, na Espanha.
DICAS
- Chegue cedo: o lugar é grande e pode-se levar o dia inteiro para conhecer todos os pontos de interesse.
- Leve lanches rápidos: mesmo que resolva almoçar no único restaurante da ilha, é bom ter o que beliscar.
- Leve água: sério que você não havia pensado nisso?!
- Não esqueça o casaco no outono/inverno (talvez seja válido até em dias de calor): mesmo ao sol, os ventos marítimos são gélidos, principalmente ao entardecer.
- E, claro, leve protetor solar, óculos escuros, uma canga/toalha, roupa de banho e jogue-se na água! Vale a pena.
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Esse é o primeiro post sobre nossa passagem por Portugal. Em breve, mais relatos e dicas sobre Lisboa, Estoril, Cascais, Sintra, Coimbra e Porto!
Obrigado pela leitura e boas viagens!