
Cusco, sábado, 22 de junho de 2013 (2° dia).
COMPROMISSOS MATINAIS
Na manhã seguinte tínhamos algumas questões pra resolver: comprar as passagens pra Nazca e fechar o city tour. Tomamos um café rápido no hotel (bem honesto, mas eu não gostava de metade das coisas, então não comi muito) e nos colocamos a descer a montanha!
ADEUS NAZCA…
Passamos em uma das muitas agências de turismo no entorno da Plaza de Armas (Naty’s Travel Agency), fechamos o passeio para a parte da tarde e seguimos para um escritório da Cruz Del Sur, empresa de ônibus que teoricamente nos levaria à Nazca, no centro urbano da cidade perto da estátua de Pachacútec. Inviável! Não havia tempo hábil, quase vinte horas de viagem… Infelizmente (e infelizmente MESMO, pelo menos para mim!) tivemos que abortar essa missão e teríamos que ir de avião para Lima…
O CITY TOUR
Depois de comer alguma coisa, provavelmente empanadas (pois só comíamos isso), fomos encontrar com o grupo do city tour por volta das 13h. Um grupo bem diversificado pelo que vimos: um casal de brasileiros, chilenos, argentinos, peruanos, todos seguindo o guia da vez, Juan Carlos, que era bem simpático e solícito, mas ligeiro demais. Ele passou o dia gritando “Grupo de Juan Carlos!! Grupo de Juan Carlos, por aqui!!”, “Brasil, por aqui, vamos!”. Não tínhamos muito tempo para dispersar. Uma loucura total!
QORIKANCHA
A primeira parada foi em Qorikancha (ou Coricancha/Koricancha), um dos templos mais importantes para os incas, que após a colonização espanhola foi parcialmente destruído e transformado no Convento de Santo Domingo. Estava frio, mas suportável. O difícil era respirar… Nesse templo você começa a ter noção da perfeição da arquitetura inca quando comparada com a espanhola. O convento estava decorado com a bandeira do arco-íris (não, não era apologia à cultura gay, a bandeira de Cusco é um arco-íris mesmo…). Nichos construídos para abrigar imagens sagradas esculpidas em metais preciosos, dividiam a atenção com portas perfeitamente alinhadas, como a Porta Cerimonial Inca, com mais ou menos dois metros e meio. Essas esculturas, logicamente, foram saqueadas pelos espanhóis. Vale a pena pagar para conhecer Qorikancha (não está incluso no boleto turístico geral, na época tivemos que pagar 10 soles na entrada).
O antigo templo é um prato cheio para os adeptos da Teoria dos Alienígenas do Passado (loucos como eu), pois podemos verificar alguns artefatos que, por mais que o guia e os arqueólogos tradicionais tentassem explicar de uma maneira racional a sua construção, visivelmente só poderiam ter sido feitos utilizando-se de uma tecnologia mais avançada do que supomos. Estava começando a ficar interessante… Uma das partes que mais chamaram a atenção em Qorikancha, e que o guia passou um bom tempo explicando, foi a Via Láctea na visão inca em que, para variar, eles enxergavam uma lhama no céu. Existe um painel colorido gigantesco explicando essa parte da astronomia inca. Através das sacadas de Qorikancha, podíamos vislumbrar a Avenida El Sol, provavelmente a via mais importante da cidade.



TAMBOMACHAY
Depois do Convento de Santo Domingo, pegamos a van da agência e fomos para Tambomachay, a 11 km de Cusco. Lá, compramos o boleto turístico que dá direito à maioria das atrações da cidade por 130 soles. Este foi o lugar mais alto que eu fui em toda a minha vida: 3.765 metros acima do nível do mar! Por esse motivo e por não ter me precavido comprando um Sorojchi Pills, o mal de altitude estava gritante! (consequentemente o meu mau-humor também…). Muita gente pode achar que é frescura, mas se a pessoa começar a sentir os sintomas do soroche ainda em Cusco, pode ter certeza que o auge será em Tambomachay… O Fabricio ficava zanzando para lá e para cá, interagindo, tirando fotos e eu tentava acompanhar.
Tambomachay é um sítio arqueológico dedicado ao culto da água, então possui várias (e lindas) fontes, mas acredito que não conhecemos nem a metade, visto que o lugar é enorme e o tempo muito curto. Uma pena porque, assim como a maioria das ruínas peruanas, o lugar é realmente espetacular. A realidade é que o tempo de viagem era muito curto para conhecer a fundo cada sítio e, nessas horas de lucidez, eu me arrependia de não ter tirado mais dias de férias…
PUKAPUKARA
Pukapukara tem uma das vistas mais espetaculares que eu já vi. Ao mesmo tempo em que observávamos terrenos cultiváveis na paisagem bucólica, podíamos ver ao longe as cadeias de montanhas (algumas com o topo nevado). Pelo que me lembro, trata-se de uma antiga fortaleza inca e, como na maioria das ruínas, estava cheia de vendedores de artesanato na entrada. Coisas tão interessantes que dava vontade de levar tudo! Mas esse foi o passeio mais rápido do city tour. Nesse o Juan Carlos se superou! Tivemos, no máximo, quinze minutos para conhecer o lugar e tirar fotos. Nas montanhas distantes podíamos ver partes já sombreadas, indicando a chegada do pôr do sol. Tínhamos que nos apressar!
QÉNQO
Nessa ruína o frio já estava apertando, pois o sol já não nos alcançava. A vista de Qénqo (ou Qenco/Kenco/Kenqo) é tão bonita quanto a anterior, com a diferença de que conseguíamos enxergar também um pouco da parte urbana da cidade. Logo na entrada vemos uma pedra gigante (que o Juan Carlos deve ter dado uma boa explicação, mas não quisemos acompanhar) e começamos a descer em direção a uma mesa cerimonial usada para sacrifícios (!) também feita de pedra. A vibração do lugar é bem diferente. Eu fiquei imaginando como e se realmente houveram sacrifícios humanos ou animais em cima daquela pedra extremamente lisa e gelada. Nesse momento, se estivéssemos um pouco mais comunicativos, teríamos conhecido Coté, Evelyn e companhia, nossos amigos chilenos com os quais futuramente esbarraríamos em Aguas Calientes. De Qénqo, rumamos para a última ruína do dia (e a mais importante, na minha opinião).
SACSAYHUAMÁN
Estar em Sacsayhuamán foi como ver um sonho nonsense sendo realizado. Quantas oportunidades nós temos de estar em um lugar em que achávamos que só veríamos pelo History Channel? Sacsayhuamán merece, pelo menos, metade de um dia. Se passamos 30 minutos, foi muito… Mas, claro, foi uma experiência inigualável. Nem o frio cusquenho, que já caía pesado àquela hora, nos desanimava. Uma fortaleza? Zonas agrícolas? Um santuário? A mim pareceu uma fortaleza. Juan Carlos mostrava a imagem de uma lhama (lógico!) esculpida nas pedras. E não é que parecia mesmo? A superlua era aguardada para o dia seguinte, mas isso não queria dizer que ela não poderia iniciar o espetáculo na noite anterior. A lua cheia pairando atrás do Cristo Blanco e, mais tarde, entre as ruínas de Sacsayhuamán, era uma visão espetacular! Juan Carlos, o guia, explicava coisas sobre as pedras. Algumas mediam até cinco metros e podiam chegar a trezentos e cinquenta toneladas! Todas perfeitamente alinhadas sem o uso de qualquer tipo de argamassa! COMO?!
Foi em Sacsayhuamán que os espanhóis derrotaram os incas em 1536. A fortaleza foi pensada para representar a cabeça e os dentes de um puma, ou pelo menos é o que diz as lendas a respeito das construções em volta de Cusco. Segundo o projeto dos incas, o templo de Qoricancha representava a cauda. Com o cair da noite, chegava ao fim o nosso primeiro “Indiana Day”. Fomos levados de van até a Plaza de Armas e no caminho percebemos o quanto a fortaleza encontrava-se perto do nosso hotel. Decidimos que tentaríamos voltar com mais tempo para explorar o lugar.
O CARTÃO QUE NÃO PASSOU!
Ao chegar à Plaza de Armas, nos direcionamos à primeira agência de viagens que achamos aberta. Tínhamos que comprar as passagens de avião para Lima. Conforme combinado em caso de emergências, usaríamos o cartão do Fabrício para comprá-las. E quem disse que ele passou?! (risos eternos!). Depois de preencher todos os dados necessários, o cartão não passava por nada! Sabe-se lá porque… Diz o Fabricio que a senha estava correta e o cartão desbloqueado então, provavelmente, era um problema da máquina. Enfim, tivemos que sacar dólares e pagar em cash… Mais uma lição para o currículo de viajante: não confie (apenas) no seu cartão de crédito internacional…
UM FRANGO NA ESQUINA E MAIS EMPANADAS PARA VIAGEM
Depois do pequeno susto com o cartão, precisávamos comer alguma coisa, mas antes resolvemos experimentar a tão falada Cusqueña, cerveja emblemática de Cusco e comprar algumas guloseimas em um dos mercadinhos da redondeza (mais que nunca, agora precisávamos economizar!). Como na maioria dos lugares frios, as bebidas não eram vendidas muito geladas, mas a Cusqueña caiu bem, ao menos para mim. Resolvemos encarar uma das “casas de pollos”, “polleterias”, “frangueterias”, enfim, uma casa especializada em frangos preparados de todos os modos possíveis: assado, cozido, frito, na sopa… Essa parte da viagem foi uma das mais emocionantes, pois, enquanto devorávamos nosso frango assado com fritas, um senhor de idade já bem avançada se aproximou de nossa mesa e balbuciou algo que a princípio não entendemos. Com certa dificuldade compreendemos, finalmente, que ele estava pedindo o resto de nossa comida… Foi difícil conter as lágrimas. É duro constatar que a pobreza e a fome ainda fazem vítimas em diversas partes do mundo, principalmente na África e na América Latina. Depois do susto com o cartão e desse choque de realidade, entregamos o que sobrou para o velho peruano e chegamos à conclusão que naquela noite só precisávamos de algumas empanadas para viagem e cama!
A seguir: O Vale Sagrado | Cusco, Peru