
Cusco, sexta-feira, 21 de junho de 2013 (1° dia).
CHOQUE TÉRMICO, CHOQUE ATMOSFÉRICO, CHOQUE CULTURAL
Logo que desembarcamos em Cusco, no Aeroporto Internacional Alejandro Velasco Astete, fomos tomados por um frio descomunal! Tinha me esquecido que era o primeiro dia de inverno e estávamos a mais de dois mil metros de altitude. Com os casacos na mala, começou um bater de queixos que parecia não ter fim… E também foi o começo dos males de altitude, também conhecidos como soroche.
Por causa do meu companheiro de viagem (que dispensou o táxi oferecido pelo hotel, pela bagatela de 15 soles), tivemos que pagar 30 soles para ir do aeroporto ao hotel! 25 pro taxista e mais 5 de taxa de aeroporto, já que ele era ilegal. Vivendo e aprendendo…
O primeiro dia foi um verdadeiro desafio, já que não tínhamos dormido e nem nos alimentado direito e o soroche estava me incomodando demais! Ainda assim, após deixarmos as malas no hotel, fomos conhecer a cidade.
O HOTEL
O Casa Escondida Chincana Wasi é um hotel bem aconchegante. Instalado em um antigo casarão colonial a vinte minutos do aeroporto e a três quarteirões da Plaza de Armas, a decoração tem um estilo bem peculiar, desde espelhos solares a quadros com motivos cristãos e esculturas incas.
Além de contar com a conveniência do wi-fi em todos os cômodos, possuía várias áreas de convivência. O salão principal conta com sofás confortáveis e uma lareira para aquecer os hóspedes do frio cusquenho. Assim que chegamos fomos recepcionados pelo Augusto (Hola!) e pudemos degustar nosso primeiro chá de coca (que não tem nada de anormal e não, não dá onda!).
O maior defeito do Chincana é ficar no pé da montanha (Calle Pumacurco, 635), mas o mesmo defeito se tornaria uma vantagem quando tivéssemos que ir para o Inti Raymi, no santuário de Sacsayhuamán, a pé. Estávamos na metade do caminho!
Indo em direção à Plaza de Armas, passávamos diariamente pelo Museo de Arte Precolombino (que não chegamos a entrar) e pelo bar Fallen Angel (que sempre estava fechado para eventos particulares) na Plazoleta de Las Nazarenas.

PRIMEIRA VISÃO DA PLAZA DE ARMAS
Chegamos em meio aos preparativos para o Inti Raymi (o Festival do Sol), talvez a data comemorativa mais popular no Peru, e a cidade estava muito movimentada. Vendedores, crianças, idosos, cambistas, todos se amontoavam ao redor da Plaza de Armas. E o que é a Plaza de Armas?! Um lugar incrível!


Eu não diria que é apenas um local importante de se conhecer já que, estando em Cusco, é praticamente IMPOSSÍVEL não passar pela Plaza de Armas, pois toda a vida cultural e turística da cidade fica basicamente nos seus arredores.
Conhecida como Huacayapata (Praça dos Guerreiros ou dos Pesares), a Plaza de Armas, na época dos incas era o ponto principal das comemorações anuais do Inti Raymi. Além da importância religiosa e cerimonial, o local tem grande relevância histórica, uma vez que foi ali que ocorreu em 1781 a decapitação de Túpac Amaru II, o líder rebelde dos incas e também onde Francisco Pizzarro reivindicou Cusco para a Espanha.
Hoje em dia, nos arredores da Plaza, podemos observar a influência espanhola nos arcos de pedra e em duas imponentes igrejas: a Catedral de Cusco e a Iglesia de la Companía (que frequentemente são confundidas, devido à semelhança).

A PRIMEIRA REFEIÇÃO A GENTE NUNCA ESQUECE
Apesar do soroche, resolvi fumar o primeiro cigarro em Cusco e percebi que ele simplesmente durava o dobro do tempo! Não sei se tem uma explicação cientifica para isso, mas desconfiamos que seja pela diminuição do oxigênio.
Enfim, os cigarros simplesmente não tinham fim em Cusco! E dá-lhe dores de cabeça, tonturas, enjoos, mau-humor… Nossa primeira refeição foi um misto quente com a famosa Inca Kola. Tanto o pão, quanto o queijo e o presunto têm o gosto um pouco diferente, mas nada superou a célebre gaseosa.
A Inca Kola lembra um pouco o Guaraná Jesus (refrigerante com cor e gosto de chiclete que é muito consumido no nordeste do Brasil e na popular Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro). Como seu parente brasileiro, a Inca Kola tem gosto de chiclete, mas a coloração lembra a do cloro! Enfim, eu pessoalmente não curti muito essa paixão nacional.

VICIADOS EM EMPANADAS VISITAM O ARCO DE SANTA CLARA
Depois de umas fotos nos arredores do Arco de Santa Clara, achamos uma lojinha com as tradicionais empanadas! E como comemos empanadas nessa viagem! Só nessa loja comemos três empanadas cada um, sempre acompanhadas de muito ají (tempero cremoso típico, à base de pimenta).
Também provamos a chicha morada (cerveja à base de milho e especiarias). Interessante, mas nada de mais. O Peru tem trinta e cinco tipos de milho e mais de quatro mil tipos de batatas. Existem milhos vermelhos, marrons, amarelos, brancos… O milho usado na chicha morada é roxo e muito comum na cordilheira dos Andes.

1 SOL, 2 SOLES, 3 SOLES…
Em seguida fomos negociar luvas e gorros em um mercado popular de artesanato. Aproveitamos para ir ao banheiro e descobrimos que os peruanos cobram por quase tudo: 1 sol pelo uso do banheiro, 1 sol pra tirar uma foto… Até as crianças, aparentemente, já foram doutrinadas nessa filosofia, mas com toda a pobreza que constatamos, até que me parece justo…

Ao sairmos do mercado, a cidade estava ainda mais cheia. Nos informamos e descobrimos que todas as províncias visitam Cusco nessa época (que sorte, hein!?). Pessoas se abarrotavam na Plaza para assistir aos desfiles, para tirar fotos aos pés da estátua de Pachacútec e nós desviávamos de um vendedor de cinco em cinco segundos: “No, gracias!”.

A PEDRA DE DOZE ÂNGULOS
Resolvemos seguir os conselhos do guia turístico que eu comprei e fomos conhecer os famosos muros incas na parede externa do Museo de Arte Religioso. Aproveitamos para comprar mais quinquilharias de lembrança (muitas!) e vimos a tão falada Pedra de Doze Ângulos. Foi justamente nessa pedra que um nativo começou a conversar comigo como quem não quer nada e me passou várias informações interessantes. A surpresa veio no final quando ele perguntou “O sr. tem uma contribuição para que eu possa continuar o meu trabalho?”. Lá se foram mais uns 2 ou 3 soles. Com a moça da lhama com o bebê foi a mesma coisa: “A contribuição é voluntária!” Eu dei 1 sol e ela quase me fuzilou com o olhar… “Só isso?!”. Esses peruanos…


A CARNE DE ALPACA
Na hora do almoço paramos em um restaurante na Plaza, o Tabasco, especializado em comida mexicana e peruana. Depois de uns nachos acompanhados de guacamole como entrada, eu como sempre, não quis arriscar e pedi um frango, mas o Fabricio resolveu experimentar carne de alpaca e gostou. Comi um pedaço e não vi nada de mais, carne normal, só um pouco agridoce. Valeu pela experiência. Depois dessa pequena odisseia, decidimos que uma soneca cairia bem e pegamos o caminho de volta para o hotel.



ESCALANDO A MONTANHA
Subir a ladeira da Calle Pumapurco pela primeira vez foi, de longe, uma das experiências mais grotescas da minha vida. Parecíamos dois velhos de 80 anos, só que os velhos peruanos conseguiam subir mais rápido que a gente (e geralmente com peso nas costas!). Vergonhoso… Quando finalmente chegamos ao hotel eu me lancei na cama e dormi até umas 20h.
BALADA! SÓ QUE NÃO…
Depois de recuperar um pouco as energias, nos lançamos em nossa primeira noite em Cusco. Famosa pela vida noturna, tínhamos diversas opções de boates e bares pela cidade.
A PLAZOLETA SAN BLÁS
Como a intenção era ficar bêbado rápida e economicamente, compramos uma garrafa de vinho para cada um e fomos conhecer San Blás, o bairro boêmio, que de boêmio aquela noite não tinha nada! A Plazoleta de San Blás estava praticamente vazia, com uns poucos gatos pingados e uns “cachorros-lhamas” que iam pra lá e pra cá. Ficamos cerca de meia hora sentados num frio indescritível, olhando para a perfeição da lua cheia naquela noite e decidimos rodar pela Plaza de Armas. Lá chegando, já fomos abordados por outro vendedor. Só que em vez de pacotes turísticos, ele tinha um completo arsenal de drogas pela bagatela de 50 soles! Não, não fechamos negócio!
MAMA AFRICA
Depois de muito ponderar sobre as opções e conhecermos algumas figuras da Argentina, decidimos entrar no Mama Africa, certamente a boate mais famosa de Cusco. O clima era legal, muita gente bonita (a maioria estrangeiros) e música animada (reggaeton nas alturas!). Ficamos pouco, uns quarenta minutos, desviando dos gringos alcoolizados e superanimados, mas o lugar é bem interessante e econômico (geralmente a entrada é gratuita). Afinal, decidimos que era melhor guardar as energias para o dia seguinte, mas ainda tínhamos que encarar a ladeira novamente… TENSO!
A seguir: O City Tour | Cusco